Chico dos Dias foi índio escravizado desde criança e criado pela índia escrava dos Dias
Cresceu junto com Simplício Dias
Mas depois depois de conhecer a história de Tupac Amaru, resolve vingar Mandu Ladino
Leia agora mesmo este conto e conheça quem foi Chico dos Dias
Chico dos Dias
Por Renato Castelo Branco (Livro Rio da Liberdade p. 45 a 49)
Chico dos Dias conhece um velho Marinheiro
Chico dos Dias, sempre que os brigues de Simplício Dias traziam suas cargas de xarque para reembarcar para Lisboa, aí se reunia à marujada e as negras e mulatas das noites de São Luis.
Nessa noite, quando Chico dos Dias chegou, havia um movimento inusitado de marujos estrangeiros, de fala espanhola. Chegara ao porto o bigue do contrabandista Bianchi, venezuelano, e as mulheres, excitadas, disputavam os forasteiros e suas moedas de prata.
Chico dos Dias terminara por conhecer Lopes, um velho marinheiro, calvo, de longas suíças, uma cicatriz que lhe tomava a face desde a sobrancelha até o queixo, contraindo-lhe o olho direito e dando à sua fisionomia um desconcertante desequilíbrio.
Lopes fora revolucionário em seu país, lutara nas guerras da independência nas forças de Simon Bolivar. Ferido, fora recolhido pelo capitão Bianchi, amigo e colaborador de Bolivar, que terminara por incorporá-lo à sua maruja.
Chico dos Dias conhece a história de Tupac Amaru
De Lopes, Chico dos Dias ouvira, fascinado, horas seguidas, histórias de índios, de fantasmas, de bandidos e revolucionários de do chefe rebelde inca Tupac Amaru.
Tupac Amaru fora o último rei dos incas, sacrificado pelos espenahóis. Em 1780, seu descendente José Gabriel Condorcanqui, cacique de Tungasuca, adotou o nome de ascendente e liderou uma revolução pela restauração dos direitos da raça indígena.
Depois de uma primeira vitória em Sangarra, em que destroçou um exército de 1.200 homens das forças coloniais, o novo líder Tupac Amaru mobilizou um grande exército índio de 20 mil homens, invadiu e dominou a cidade de Lampa e ameaçou Cuzco.
Os espanhóis tiveram que reunir tropas do Vice-Reis de Lima e Buenos Aires para enfrentá-lo, derrotando-o finalmente em 1781 e aprisionando-o.
Tupac Amaru, seus amigos e sua família foram submetidos às maiores atrocidades, antes que ele fosse decapitado. Mas seu nome ficou como uma lgenda de revolta e de luta pela liberdade.
Chico dos Dias tem uma revelação
Chico dos Dias ouviu a história de Tupac Amaru como se fosse uma revelação, uma mensagem do destino, em que descobria conotações misteriosas.
Em 1780, ano em que Tupac Amaru iniciara sua luta pela liberdade, ele fora escravizado. E, como ele, era filho de índios.
Tinha sete anos de idade quando o Tenente Coronel João do Rego Castelo Branco e seu filho Félix organizaram uma expedição contra os índios timbiras e acoaroás, no rio das Balsas, dizimando suas tribos.
João do Rego fizera mais de duzentos prisioneiros, setenta dos quais adultos, que foram enviados para o Maranhão como escravos, enquanto as crianças foram distribuídas a diversas famílias e moradores da região.
O curumim Chico dos Dias
O curumim Chico fora dado à índia domesticada Filomena, escrava dos Dias da Silva. Recebera o nome de Francisco, a que depois foi agregado o dos seus donos. Assim surgira o Chico dos Dias.
Criado na Casa-Grande, fora companheiro de infância de Simplício Dias. Tornara-se uma espécie de pagem do filho do Coronel, a quem acompanhava nos banhos de rio, nos passeios a cavalo, caças de passarinhos, e a quem ensinara os segredos do sexo, que aprendia na senzala com as cunhas.
A velha Filomena lhe contara histórias fantásticas de seus antepassados, a história de Mandu Ladino, chefe índio que comandara a resistência das tribos do delta do Parnaíba contra os conquistadores brancos, quando estes começaram a invadir suas terras, no começo do século.
Mandu Ladino fora morto em 1717 em combate com os colonizadores, nas proximidades do local onde hoje é Parnaíba, perto do delta.
Quando Simplício ficou mais velho e trocou as brincadeiras com Chico dos Dias pelas brincadeiras mais divertidas com as negrinhas da senzala, foi trabalhar nas xarqueadas e mais tarde, nos veleiros que transportavam o xarque dos Dias da Silva para todo o Nordeste, para a Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul e para Lisboa.
São Luis era, então, o grande centro de comunicação com a Metrópole portuguesa, porto de exportação dos produtos das fazendas agro-pecuárias do Piauí, do Maranhão e de parte do Pará.
De lá partiam as naus cerregadas de arroz, açúcar, algodão, xarque, peles, crina, cravo, canela, castanhas, sal e voltavam com as sedas, os perfumes, as porcelanas, os vinhos, o azeite, o bacalhau, os produtos manufaturados, consumidos pelos ricos fazendeiros e comerciantes do Maranhão.
Chico do Dias tomara uma decisão
Como o cacique José Gabriel Condorcanqui adotara o nome de Tupac Amaru, ele adotaria o nome de Mandu Ladino e arregimentaria os escravos índios para lutarem pela liberdade.
Ouvira que, em tempos distantes, os escravos negros fugitivos, sob o comando de Zâmbi, haviam se aquilombado em Palmares, para resistir aos donos. Ele faria o mesmo com os índios.
Lopes fora enviado do destino. Trouxera-lhe uma mensagem, que ele iria cumprir.
Tupac Amaru e Mandu Ladino eram irmãos.
Assim ocorreu a fuga de Chico dos Dias, oculto nas trevas da noite, em busca da liberdade.
Ia, com o coração cheio de ódio, relembrar o martírio de seus antepassados, e repetir, contra o senhor branco, os crimes que ele cometera contra os seus irmão.
Como poderias tu, Mandu Ladino, criado na escravidão, perceber que a violência e a vingança não são o caminho da libertação?
Que dor que causarás aos teus opressores não redimirá a dor que eles te causaram?
Que crueldade e a infâmia não lavarão os sofrimentos de tua raça?
Vai Mandu Ladino, cumprir o teu destino de rebelde e vingador.
Conclusão
Espero que tenha gostado deste texto sobre Chico dos Dias contado por Renato Castelo Branco
Este texto causa reflexão sobre a situação de massacre dos nativos e sobre a situação de muitas familias indígenas que perderam suas vidas e a situação de crianças que foram escravizadas.
O Chico dos Dias fora uma dessas crianças espalhadas pelas famílias aristocráticas para servirem como escravas.
Renato Castelo Branco retrata uma situação que existiu e que pouco temos informações.
Aqui fica o questionamento: Quantas crianças foram escravizadas após as destruições das aldeias? Que poblemas estas crianças vivenciaram após serem escravizadas?
Chico dos Dias simboliza uma situação histórica para ser estudada…. fica a dica.
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ATÉ O PROXIMO, AGUARDO VOCÊ!
Fonte
Castello Branco, Renato. Rio da Liberdade: a guerra do Fidié. São Paulo LR Editores, 1982.