A Igreja dos Homens Pretos de Parnaíba
Conheça História da Igreja construída em 1791 para separar Negros de Brancos em Parnaíba.
Você sabia que em Parnaíba foi construída uma Igreja para separar os Negros dos Brancos?
A população branca não aceitava assistir a missa junto com os negros na Catedral. Por isso construíram uma Igreja para os negros
Quer saber que história é essa?
Leia o post agora e conheça a história da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Parnaíba
Igreja dos Homens pretos: História Curiosa
Em Parnaíba Pi, tem um fato curioso: Foi construída uma Igreja para os negros assistissem a missa separados dos brancos.
Esse fato causou uma situação curiosa.
O fato é que na Praça da Graça tem duas Igrejas, a de Nossa Senhora das Graças, para os brancos e a Igreja do Rosário, para os negros. Ambas construídas no final do século XVIII.
Para começar a entender o motivo dessa separação, vamos lembrar um período triste de nossa história. A época da escravidão.
A escravidão é de fato uma das situações mais degradantes que podemos constatar em nossa história.
Em Parnaíba a escravidão aconteceu sem se diferenciar do restante do Brasil.
Embora tendo suas particularidades, a escravidão está na base da acumulação de riqueza das famílias dominantes da época.
A mão de obra escrava foi a força motriz de grande parte dessa acumulação de riquezas.
O Fato de ter uma Igreja para os negros envolve a família mais influente da região.
Detentora de grande fama e fortuna, a família dos Dias da Silva.
Por razões que a história registra, brancos e negros não se “misturavam”, isto é, não frequentavam ambientes sociais em pé de igualdade, nem mesmo na igreja.
A segregação é marcante entre brancos e negros na sociedade parnaibana da época, final do século 18 quase todo século 19.
Por esta razão os Dias da Silva construíram uma igreja para que os escravizados negros pudessem participar das atividades religiosas. Já que era proibido ao negro frequentar a Igreja Matriz de Nossa da Graça. Igreja esta, frequentada somente pelos os brancos.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário foi construída para que negros pudesse entrar e participar das missas. Aos 13 do mês de Fevereiro de 1791, se deu conclave de instalação da igreja.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Parnaíba foi construída em atenção aos quase dois mil negros escravos da família Dias da Silva. O mencionado número de escravos, “mercadorias vivas”, aponta para o significativo patrimônio pessoal de Dias da Silva, e também sinaliza o seu status social, já que a quantidade de escravos de um senhor pode ser considerada como um símbolo de distinção social(Rego, 2010. p. 49).
Localização da Igreja do Rosário: A Igreja dos Homens pretos
A Igreja do Rosário está Localizada na Rua Oscar Clarck na Praça da Graça, centro de Parnaíba.
A famosa igreja dos pretos está bem próxima da Igreja dos brancos, está na mesma praça. Um fato inusitado: duas igrejas numa mesma praça e destinadas para públicos distintos, na época.
A questão é que o preconceito não permitia que brancos e pretos convivessem com algum grau de igualdade. O número de escravos era bastante considerado e diversificado o que demonstra o nível do poder aquisitivo das principais famílias da época.
Aqui havia escravos trazidos das mais variadas regiões da África (Rego, 2010. p. 129).
Veja como Falci (1994, p.63), traz detalhe:
Entre os escravos de Dias da Silva se encontravam africanos de diversas nações: Congo, Benguela, Cassange. Os homens perfaziam 96% da escravaria e atuavam em profissões muito diversificadas: ourives, enfermeiros, calafates, pedreiros, mestres de ferreiros, mestres de navegação, além dos dedicados à agricultura, à criação de gado e à Marinha (Ibid., p.63).
Observa-se que o zelo que houve em construir uma igreja não parece representar um ato de cuidado mais humanizado. Pois o que vemos é que as condições de vida dos trabalhadores escravos permaneciam as piores.
Segundo Rego, os que trabalhavam no abate de gado e nas suas charqueadas, situadas em terreno alagadiço, enfrentavam condições higiênicas precárias.
Antônio José Morais Durão, ouvidor da capitania, assim se pronunciou a respeito:
Nas feitorias […], é natural que padeçam as epidemias […] porque o fétido que causa o sangue espalhado e mais miúdos de tantos milhares de reses que se matam no pequeno espaço de um até dois meses corrompem o ar com muita facilidade e produzem o dano apontado. As moscas e as sevandijas são tão inúmeras que causam inexplicáveis moléstias aos habitantes […] só no tempo de verão se pode caminhar por aquele distrito, pois no inverno, por ser baixo e alagadiço, se cobre de lagoas (FALCI, 1994, p.63).
Doença, mau cheiro e sujeira era esse o ambiente de trabalho dos escravos que trabalhavam nas charqueadas.
O poderio e a riqueza da Família Dias era tanto que anos depois da queda das charqueadas a quantidade de escravos era considerada bastante elevada.
Em 1833, o espólio da família Dias da Silva, principal referência senhorial enriquecida pela indústria charqueadora escravista, contava ainda com 360 escravizados. As charqueadas da família tinham deixado de produzir cerca de 20 anos antes. Estima-se que, no auge produtivo, a escravaria dos Dias da Silva tenha chegado a 1.800 cativos (LIMA, 2003).
Escravidão em Parnaíba nas vésperas da abolição
Em Parnaíba, ainda que com reduzido número de escravizados nas ruas às vésperas da abolição, o poder público não poupava esforços para controlar a vida dos escravizados.
O Código de Posturas do município de 1874 e seguintes, regulava que “o escravo que for encontrado nas ruas da cidade sem bilhete de seu senhor ou encarregado depois de anunciado o silêncio, será recolhido a prisão e no dia seguinte sofrerá de doze a trinta e seis palmatoadas, depois será entregue a seu senhor ou encarregado com o cabelo devidamente raspado” (APEPI, Leis, decretos e resoluções, cx. 03).
Em Parnaíba, o sistema manteve-se firme na dominação e punição de escravizados até os últimos suspiros da escravidão.
Descrição da igreja do homens pretos em Parnaíba
A Igreja do Rosário tem uma fachada discreta, singela e singular. Com um altar bastante humilde e com pouca decoração em relação à Igreja Catedral, sua vizinha, na mesma praça.
No centro do altar tem a imagem de Nossa Senhora do Rosário ladeada pelas imagens de São Bendito à direita e São José à esquerda. Outras imagens estão dispostas pelo interior da Igreja.
Para quem tem a consciência histórica do local, acho impossível não ser remetido a uma reflexão do que o lugar representa. E de não ser levado a imaginar os momentos de súplicas que a população escrava depositara nos braços de sua protetora Nossa Senhora do Rosário de Parnaíba, no interior daquela Igreja.
Uma Reflexão
Estes fatos segregacionista aconteceram por diversas partes do mundo. Aqui no Brasil temos muitos exemplos de situações chocantes envolvendo a exploração do povo negro.
Porém, o que mais chama a atenção é que passados muitos anos, ainda existem ações preconceituosas e racistas em nossa sociedade. Apesar de termos leis e punições, ainda são muitos os casos de injuria racial ocorrendo diariamente no nosso país.
Fatos e lendas ocorridos
Alguns fatos curiosos, histórias e até lendas envolvem a Igreja, os negros e as famílias abastadas da época.
O escritor Pádua Marques destaca alguns contos em tom bem divertido e irônico adaptando fatos com lendas envolvendo Simplício Dias e seus escravos. Nestes contos é possível perceber as relações sociais e as condições de submissão a que se sujeitava o escravizado.
É o caso dos contos: “A canja da Vingança”, “A moeda para Nossa Senhora da Graça”, “A negra que abanou os queixos de Simplício Dias” e o “O casamento de Cunhandita”.
Porém, dentre tantos, vamos destacar um conto que está ligado diretamente com a igreja do Rosário.
Você pode conferir acessando o link o “Caixão de Tereza”, conto de Humberto de Campos que narra a morte do homem mais poderoso da época. O Coronel Pacífico.
E divirta se com estes contos maravilhosos…
Conclusão
Temos neste post um breve relato com trechos extraídos de algumas pesquisas sobre a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Tivemos também o cuidado de mostrar e descrever o interior da Igreja do Rosário como forma de homenagear ao povo negro que muito ajudou a enriquecer o colonizador branco.
E deixamos uma pequena reflexão sobre o que pode ter se passado nas mentes e corações de escravos que vivenciaram momentos de dor e fé no interior deste templo religioso.
E por fim fizemos indicação de alguns contos da literatura parnaibana para sua leitura.
Espero que tenha gostado!
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Fontes
FALCI, Miridan Britto Knox. O ilustre senhor da Parnaíba: Simplício Dias da Silva. Cadernos de Teresina, ano VIII, n. 18, dez. 1994.
LIMA, S. O. Trabalho escravo nas charqueadas do Piauí: uma aproximação. Informe Econômico. Teresina, a. 7, n. 15, 2003
Passos, Caio. Cada Rua, sua História. S/ED Parnaíba Piauí, 1982.
REGO, Junia Motta Antonaccio Napoleão do. Dos Sertões aos Mares: história do comércio e dos comerciantes de Parnaíba (1700-1950). Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense. Niterói: 2010.
RELAÇÕES ESCRAVISTAS EM PARNAÍBA(PI): séculos XVIII-XIX
Silva, Antônio de Pádua Marques. Vinte Contos para Simplício Dias. Teresina: Gráfica do Povo, 2020.
Uma resposta
Muito bom!