Introdução
No distante ano de 1866, Luiz Antônio de Moraes Correia desembarcava em Parnaíba, cidade que viria a chamar de lar após deixar sua cidade natal, Açú, no Estado do Rio Grande do Norte. Com apenas vinte e cinco anos, ele aceitou o convite de seu irmão Francisco Severiano de Moraes Correia Filho para iniciar uma nova jornada nesta terra. Essa decisão marcou o início de uma história repleta de dedicação, trabalho árduo e contribuições significativas para o desenvolvimento de Parnaíba.
CORONEL LUCAS CORREIA
Por Caio Passos
Corria o ano de 1866. Luiz Antônio de Moraes Correia, moço ainda — vinte e cinco anos de idade — a convite de seu irmão Francisco Severiano de Moraes Correia Filho, que aqui já residia, chegava à Parnaíba.
Ele vinha de Açú, cidade à margem do rio Piranha, no Estado do Rio Grande do Norte, onde nascera a 13 de junho de 1839.
Constituição de sua família
Aqui constituiu família, casando-se com D. Angélica Tavares Silva Moraes Correia, filha do abastado fazendeiro e agricultor, proprietário da Ilha de Santa Isabel, Capitão Claro Ferreira de Carvalho Silva e de sua esposa D. Geracinda Tavares Silva.
Desta união, abençoada por Deus, nasceram três filhas: Emir, viúva do Capitão-de-Corveta Francisco Esperidião de Andrada Júnior; Maria de Lourdes, viúva de Hercílio de Paiva Furtado, ambas residentes no Rio de Janeiro; e Zilda, casada com João Gonçalves Neves, falecida no Rio de Janeiro.
O Cel. Lucas Correia
O Cel. Lucas Correia — este era o seu nome popular — tornou-se mais tarde um dos grandes proprietários deste município.
Dedicou-se à agricultura e à pecuária. A sua propriedade principal era a Ilha das Batatas, encravada no delta do Parnaíba. Terra fértil e exuberante. Era o seu forte esteio econômico.
Tinha, entre outras, a fazenda “São Domingos”, em Amarração. Ali pastava o gado. O seu vaqueiro, negrão forte e destemido, era uma “alavanca de ferro”, como diziam os seus companheiros de trabalho. Seu nome: Simplício Vieira do Nascimento, alcunhado de Simplisão, que gozava de grande conceito junto ao patrão.
Onde era a casa do Intendente Cel. Lucas?
O Cel. Lucas Correia residia à Praça da Graça num sobrado há pouco demolido, para dar lugar a um prédio comercial.
Dado o imenso prestígio político de seu irmão, Cel. Francisco Severiano, o Cel. Lucas Correia, que também era político, foi eleito Intendente Municipal, tendo como Vice-lntendente Delbão Francisco Rodrigues, período de 1905 a 1912.
Mesmo para a época, os recursos financeiros da Intendência eram parcos; mal cobriam as despesas com o reduzido funcionalismo e outros gastos indispensáveis à marcha normal dos serviços. O Intendente não tinha remuneração; trabalhava por dedicação à terra e à política.
Os Feitos do Cel. Lucas Correira
O Cel. Lucas Correia era um homem de dinâmica capacidade de trabalho. Realizou uma admirável administração, principalmente no campo da instrução pública, criando escoIas primárias em vários pontos do município.
Os dois Grandes Feitos de Lucas Correia
Dois notáveis empreendimentos marcaram para sempre a sua passagem à testa da Intendência Municipal de Parnaíba.
Vejamos, por ordem :
O Cel. Lucas Correia, incentivado por D. Angeliquinha, sua esposa dedicada, senhora de alta visão, companheira de todas as horas, compartilhando ativamente de sua administração, mormente no âmbito social, tudo fez, tudo empregou, para a criação do Colégio Nossa Senhora das Graças.
Compra do Prédio
Inicialmente, foi comprada uma casa à Praça Santo Antônio, antiga residência do Coronel Bernardo Borges Leal, pai do ex-Governador do Piauí, Dr. João de Deus Pires Leal, deposto pelo movimento revolucionário de 1930. Em seguida, o prédio recebeu modesto mobiliário, donativo de algumas famílias parnaibanas. Tudo pronto.
Agora faltava o seu corpo docente.
D. Angeliquinha tomou para si, em perfeita consonância com o Cel. Lucas, seu esposo, a árdua tarefa de conseguir religiosas para a direção do Colégio, em organização.
Escreveu para várias ordens religiosas. Difícil, para um começo tão modesto, as religiosas dos Pobres de Santa Catarina de Sena, que também iniciavam as suas atividades no Brasil, aceitaram a grata missão — servir a Deus, em Parnaíba.
Aí então, com a ajuda de Dom Joaquim de Almeida, Bispo do Piauí na época, as abnegadas Irmãs de Santa Catarina de Sena chegavam à Parnaíba, para alegria dos idealizadores do colégio.
A fundação do Colégio das Irmãs
E assim, em 25 de maio de 1907, em plena gestão do Intendente Municipal Cel. Lucas Correia, fundava-se o Colégio Nossa Senhora das Graças. Era o fruto do labor e da tenacidade de Dona Angélica Tavares Silva de Moraes Correia, Primeira Dama da cidade.
A primeira Diretora do Colégio das Irmãs
A sua primeira Diretora foi a Irmã Amália Petri que, 30 outras Irmãs, recentemente chegadas da Europa, Irmã Maria Guzzarri, Irmã Maria Laura Giovinne e Irmã Josefina Taccini, formavam o seu corpo docente e fundador do novel estabelecimento de ensino para a mocidade feminina parnaibana.
As religiosas tiveram integral apoio da família Lucas Correia. Era uma espécie de prolongamento de seu lar. Até as férias na praia eram passadas em sua casa de lazer.
A primeira Aluna do Colégio das Irmãs
A primeira aluna a matricular-se no Colégio foi Zilda, a segunda filha do casal Lucas Correia, em companhia de mais seis companheiras de sua íntima amizade.
A modesta casa de 1907 da Praça S. Antônio está transformada no suntuoso prédio do Colégio Nossa Senhora das Graças, hoje (13 de fev 2024) sob a direção da Irmã Maria das Graças Ferreira de Oliveira.
Escola de Aprendizes Marinheiros
O outro notável acontecimento foi a instalação, nesta cidade, da Escola de Aprendizes Marinheiros, que funcionou de 1908 a 1914, recebendo absoluto e integral apoio de sua administração.
Inicialmente, funcionou no prédio onde hoje era o “Hotel Carneiro”, à Rua Professor Darcy Araújo. Demolido pra dá lugar a um estacionamento atualmente (2024).
Dois anos depois, em 1910, o Intendente Municipal Cel. Lucas Correia, entregava ao Capitão-de-Corveta Mário Diniz, Diretor da Escola e também Capitão dos Portos do Piauí, o novo prédio amplo e confortável.
O prédio mais tarde ficou conhecido por “Arsenal”, funcionando depois como penitenciária.
Hoje é o Complexo de Defesa da Cidadania, onde foi o Quartel da Polícia Militar do Estado — Batalhão Major Osmar com algumas reformas, mas sem quebrar a sua estrutura original.
Foi, sem dúvida, uma obra gigantesca para a época, que muito enaltece os méritos e comprova o dinamismo do Cel. Lucas Correia.
Outras Facetas do Coronel Lucas e D. Angélica
Instalação do Bispado em Parnaíba
Como há outras facetas relevantes na vida do Cel. Lucas e de D. Angélica, sua dedicada esposa, aqui vamos revivê-las.
O Cel. Lucas sempre demonstrou muita dedicação à Parnaíba, a terra que fez sua por estreitos laços de afeto e de coração.
Foi ele o organizador e primeiro signatário do Memorial datado de 27 de julho de 1898, dirigido ao Sumo Pontífice Leão XIII, solicitando a instalação de um bispado no Piauí, mas com sede em Parnaíba, desligando-se do Maranhão.
Vejamos alguns tópicos desse histórico documento, respeitando a sua redação e grafia original.
Pedidos da Sociedade
“Os abaixo assinados, em nome dos povos que representam, curvando-se reverentemente para beijar Vossas Sagradas Mãos e Anel Papal, vêm pedir-vos a graça de ser esta cidade da Parnahyba a designada por Vossa Santidade para ser nella instalada a sede do Bispado cuja creação ora e instantemente pedimos.
Para que este nosso aliás tão justo pedido tenha o devido valimento perante Vossa Eminente Autoridade, garantimos doação dos edifícios onde se deverão installar, com toda decencia e accomodações exigidas, o paço episcopal e seminário (plantas juntas); sendo ainda mais, que as irmandades são accordes em que seja à Egreja matriz de nossa excelsa Padroeira Nossa Senhora da Graça, desta cidade, concedida a mercê da serventia de Cathedral, sendo-nos preciso accrescentar que ella é no Estado o templo mais magestoso (planta annexa) , elegante, de primorosa construcção e riquíssima ornamentação.
Confiados na benevolência de Vosso Paternal Poder Espiritual, os abaixo assinados, com os corações cheios de fé catholica, crença religiosa e amor firme em Deus, esperam a sancção de seu pedido, porque é delle que nos ha de vir conforto para nossas almas e a educação religiosa para nossos filhos.
Aguardamos a Vossa Santa Palavra, para nella nos inspirarmos, recebendo de joelhos a Vossa Sagrada Bênção Apostólica.”
Conforme já frisamos, esse histórico Memorial traz como seu primeiro signatário Luiz Antônio de Moraes Correia, contendo ainda mais 391 assinaturas.
Os percussores do Bispado de Parnaíba
Hoje, que Parnaíba é sede de Bispado, não empanando os méritos de seus novos idealizadores, queremos dizer, a bem da justiça, que o Cel. Lucas Correia foi, diante desse documento, o verdadeiro precursor dessa louvável iniciativa de alto cunho de fé católica.
Os feitos de D. Angélica
A vinda da Professora Henriette Bricotte
D. Angélica, por sua vez, era uma senhora dedicada ao desenvolvimento da instrução pública de sua terra. Já viúva, fez em São Luiz amizade com a Professora Henriette Bricotte, diplomada pelo Instituto Normal de Nancy, França, tendo sido então convidada para visitar Parnaíba. Aceitando o convite, chegou a esta cidade em 1915. E afeiçoando-se a D. Angélica, de tal maneira que a considerava mesmo como mãe, aqui fixou residência. Mais tarde casou-se com o Sr. Artur Soter Castelo Branco.
Fundação do Ginásio Parnaibano e do Abrigo São José
Parnaíba deve-lhe grandes e admiráveis serviços. Foi uma das fundadoras do Ginásio Parnaibano e da Sociedade de Proteção aos Pobres, hoje Abrigo São José, e ainda professora de quase todos os colégios da cidade, além de um curso particular que mantinha com muita eficiência e grande freqüência.
Foi assim, mais um proveitoso trabalho de D. Angeliquinha, no campo educacional, trazendo para nossa comunidade essa notável figura que foi a culta Professora Henriette Bricotte Soter Castelo Branco.
Perfil do Cel. Lucas
O Cel. Lucas Correia era um homem simples, calmo, sereno, fisionomia sempre aberta para todos que o procuravam, pois sentia-se satisfeito, feliz, em poder ajudar, servir aos seus semelhantes.
Depois de uma vida laboriosa, toda dedicada à Parnaíba e à família, aos 74 anos de idade veio a falecer nesta cidade, a 17 de agosto de 1913.
Av. Cel. Lucas
Parnaíba, através de seu Intendente Municipal, Cel. Constantino Correia, ao integrar o Bairro Nova Parnaíba ao contexto da cidade, prestou a Luiz Antônio de Moraes Correia, o Cel. Lucas, uma merecedora homenagem a esse magnífico e dinâmico administrador, de tão saudosa e respeitável memória.
Deu a denominação de Avenida Cel. Lucas Correia à artéria pública, onde ele construiu a Escola de Aprendizes Marinheiros, antigo Quartel da Polícia Militar do Piauí — Batalhão Major Osmar. Hoje Complexo de Defesa da Cidadania Prof. José Rodrigues.
E a vida é assim; o homem, pelos seus feitos, não morre, fica perpetuado no coração do povo, através das gerações. Este é o caso do Coronel Lucas Correia.
Conclusão
O legado do Coronel Lucas Correia perdura através das gerações, lembrando-nos do poder da visão, do comprometimento e da dedicação ao bem-estar da comunidade. Sua influência se estende desde a fundação de instituições educacionais até sua participação ativa na vida política e social de Parnaíba. Hoje, seu nome permanece vivo nas ruas da cidade e na memória daqueles que reconhecem sua contribuição inestimável para o progresso e a cultura local.
Fonte: Caio Passos: Cada Rua sua História