Conheça a história do homem mais rico de Parnaíba
Por Vicente de Paula Araújo da Silva
Você já deve ter escutado falar sobre Simplício Dias em Parnaíba.
Mas talvez não saiba que ele foi herdeiro da grade riqueza de seu pai
Quer saber a história do Pai de Simplício Dias Agora?
Então, leia o post e conheça a história de Domingos Dias, o homem mais rico da Parnaíba em seu tempo.
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Terra natal do homem mais rico da Parnaíba
Sabe-se através de escritos, que Domingos Dias da Silva, teria nascido na Villa de Padornellos, concelho de Montalegre, comarca de Chaves, arcebispado de Braga, região norte de Portugal, filho legítimo do juiz e vereador José Dias da Silva e dona Maria Gonçalves.
O outro Domingos Dias
A sua história se confunde com outro Domingos Dias da Silva, um dos maiores mercadores de escravos e despachante de mercadorias entre Portugal e Angola, nos anos de 1748 a 1770. Este outro Domingo Dias tem seus dados bibliográficos relatados no trabalho elaborado por Maximiliano M. Menz sob o título DOMINGOS DIAS DA SILVA, O ÚLTIMO CONTRATADOR DE ANGOLA:
A TRAJETÓRIA DE UM GRANDE TRAFICANTE DE LISBOA, e os seus dados diferem do nosso Domingos Dias, basicamente no seguinte:
Nascera em 1714 e, quando jovem, vivera pobremente com sua família na pequena aldeia de Monte Alegre, no bispado de Braga, mas, o seu pai, foi batizado como Bartholomeu Dias. Após destacar-se como piloto de navios, e passar alguns anos na Angola, onde amealhou fortuna, retornou a Lisboa, estabelecendo parcerias em contratos de exploração e arrendamentos de dízimos, sal, pesca de baleia, e outras atividades em Portugal, Luanda, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, Ilha de Santa Catarina, Rio Grande de São Pedro e Pernambuco; Salientaram-se entre seus sócios, Paulo Jorge, José Alves de Mira, e José Alves Bandeira; Foi casado com Bernardina Maria da Costa e tiveram um filho de nome João Batista Silva; Outrossim, em 1766, ao receber a insígnia da Ordem de Cristo, por ter comprado 10 ações da Companhia de Pernambuco e Paraíba, foi qualificado como sendo natural da Comarca de Chaves e morador em Lisboa; Faleceu nessa cidade no início da década dos anos 70 do século XVIII, quando o nosso Domingos Dias da Silva, ainda não havia iniciado os seus negócios na Villa de São João da Parnahiba.
A chegada de Domingos Dias da Silva a Parnaíba
Quanto ao nosso Domingos Dias da Silva, há controvérsias a respeito de sua chegada ao Brasil, e o que fez antes de se estabelecer no Piauhy. Tudo o que se sabe, é o que está contido no seu testamento, conduzido pelo seu sobrinho Manuel Antonio da Silva Henriques, que como ele aportou na Villa de São João da Parnahiba.
Através de escritos e estórias de ouvir contar, tem-se conhecimento de que ele teria chegado à Villa de São João da Parnahiba, vindo do Rio Grande do Sul. Esta versão não é confirmada, pois, o seu nome não aparece em qualquer relação de comerciantes de grosso trato ou fazendeiros nos lugares por onde ele possa ter passado antes de chegar ao Piauhy.
Ele pode ter sido um caixeiro, correspondente ou administrador de Contrato no Rio Grande, donde teria vindo trazendo experiência comercial e alguma riqueza. As missas e doações constantes no seu inventário podem nortear os lugares por onde passou, já que era praxe na época isso acontecer, quando os moribundos estavam mandando fazer os seus inventários.
Dada a sua ligação comercial com Domingos Pires Ferreira em Pernambuco, e Policarpo José Machado em Portugal, tudo indica que Domingos Dias da Silva, seu sobrinho Manuel Antonio da Silva Henriques e João Paulo Diniz, possam ter sido caixeiros, pilotos de embarcações, ou, até mesmo, procuradores, da teia de negociantes formada por José Alves de Mira, Jacinto Bandeira e Domingos Dias da Silva – O Mercador de Angola.
Vendo os arquivos das companhias de comércio com atuação no Brasil, não constam os seus nomes como acionistas ou membros de juntas administrativas. Por serem de Monte Alegre, é possível que os dois Domingos Dias da Silva, poderiam ser primos, portanto parentes de João Paulo Diniz, fato a ser comprovado.
A importância de Domingos Dias para o Piauí
Entretanto, a importância do nosso Domingos Dias da Silva, na historicidade econômica no Piauhy e Maranhão, é real, e passou a existir após a sua chegada à Villa de São João da Parnahiba. Essa correlação foi possibilitada graças à expansão das atividades da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, na feitoria da Villa de São João da Parnahiba, quando já existia o movimento de embarcações nas rotas Parnaíba-Pernambuco e Parnaíba-Belém-São Luís.
A sua importância na capitania passou a ser notável a partir do leilão realizado em 26/12/1774, quando arrematou os dízimos das Villas de Piracuruca e Campo Maior, com efeito retroativo aos anos de 1767 a 1769, e posteriormente dominou todos os contratos de 1770 a 1793, da Villa de São João da Parnahiba, pagando parte a vista e o restante em prazos determinados.
Os negócios de Domingos Dias
A sua atuação comercial no Piauí consolidou-se a partir de 1778, com o fim do monopólio comercial no Reino pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, e não foi diferente de outros homens de negócios da época, manobrando com sucesso financeiro uma cadeia que iniciava na criação de gado, em fazendas cuidadas por escravos, que eram abatidos e transformados em carnes salgadas, couros cabeludos e outros produtos afins, negociados com outras praças no país e exterior.
Essa exportação era efetuada através de suas próprias embarcações ou de terceiros, as quais voltavam carregadas principalmente de tecidos e produtos manufaturados para consumo na sua malha comercial, estendida ao interior das capitanias do Piau e Maranhão, pelo Rio Parnaíba e seus afluentes.
A sua ligação comercial para o exterior era efetuada através do Rio de Janeiro e Pernambuco, na pessoa de correspondentes como Domingos Pires Ferreira em Recife e Policarpo José Machado em Lisboa.
A primeira viagem da Sumaca de Domingos Dias
Ao prosperar nos negócios, adquiriu a propriedade da sumaca com a invocação de Nossa Senhora da Conceição, Santo Antonio e Almas, pertencente a Domingos Pires Ferreira que já trafegava nos portos de Pernambuco, Parnaíba, Belém e São Luís.
Sumaca
Utilizando a sumaca Nossa Senhora da Conceição, Santo Antonio e Almas, em 1779, o nosso Domingos Dias, empreendeu diretamente do Porto da Barra do Igaraçu, a primeira viagem na rota Parnaíba-Lisboa, levando carne salgada e courama bovina em cabelos e curtida, trazendo no seu retorno, fazendas e outros produtos manufaturados.
Como a ordem para essa viagem partira do governo provisório de Oeiras do Piauí, o então governador das capitanias do Maranhão e Piauí, capitão-general D. Antonio de Sales de Noronha, atendendo instruções deixadas pelo seu antecessor, ao retornar a sumaca de sua primeira viagem, fez Domingos Dias pagar todos os direitos de rendas que devia e, ratificando o que estabelecera o seu antecessor, determinou que a partir da próxima viagem, a sumaca deveria aportar em São Luís, para receber os devidos despachos, antes de seguir ao seu destino, o que foi cumprido na segunda viagem da sumaca ao Reyno em 1781. 5294- 1781, Abril, 26, Maranhão; Anexo: 3 docs. (2ª via). AHU_CU_009, Cx. 57, D. 5294.
A instalação da Alfândega de Parnaíba
O mesmo governador, reconhecendo as dificuldades de tráfego e o encarecimento das despesas de viagem, com essa parada obrigatória no Maranhão, em ofício datado de 14 de novembro de 1781, ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, manifestou-se a favor da reivindicação de Domingos Dias da Silva.
O ofício em tela tratava da licença e passaporte aos proprietários das embarcações da Villa de São João da Parnahiba para navegarem daquele Porto em direitura para a Corte.
Ainda nessa correspondência, o governador considerou positiva a instalação de uma alfândega na Villa de São João da Parnahiba, para cobrança dos Direitos Reais, protegendo a Coroa de descaminhos existentes. Em vez disso, foi instalado um posto de arrecadação, sendo o mestre de campo João Paulo Diniz, nomeado Provedor Comissário da Real Fazenda.
Mesmo com a instalação desse posto avançado na Parnaíba, continuaram os problemas com o fisco da capitania do Maranhão, já que a capitania do Piauí era subalterna militar e fiscal ao governo com sede em São Luís.
O olhar de desconfiança pairava sobre Domingos Dias da Silva que operava nos portos, da Villa de São João da Parnaíba e Jericoacoara na capitania do Ceará, tidos como entrepostos de negociação de escravos e tecidos, através do livre comércio.
Após, a primeira viagem em 1779, levando para a Corte produtos da capitania, patrocinada por Domingos Dias da Silva, ocorreram outras viagens, as quais estão comprovadas pelos registros de ancoragem nos portos de Belém, São Luís, Rio de Janeiro e Lisboa.
Problemas com o fisco do Maranhão
Outrossim, tratando dessas viagens transatlânticas, Domingos Dias da Silva enfrentou alguns percalços com o fisco do Reyno, provocando muitos entreveros com a Fazenda no Maranhão, salientando-se os casos com o Juiz da Real Junta de Arrecadação do Maranhão [Antonio Pereira dos Santos] em 1784.
Na realidade por ter conquistado um imenso patrimônio em capital, fazendas, escravos, sítios, embarcações e contratos de dízimos, tornou-se aos olhos da Coroa, através do Fisco, alvo de intrigas e suspeição de que a sua fortuna era fruto de suborno e outros descaminhos ocorridos nos seus negócios no Brasil e exterior.
Dada as suas intervenções comerciais e ajuda dada aos cearenses por ocasião da seca que atingiu o Ceará no período de 1778 a 1780, Domingos Dias da Silva, recebeu a patente de Capitão das Entradas da Barra do Igaraçu, nos confins da Parnaíba, termo da Granja. Ver doc. AHU_CU_009, Cx. 82, D. 6974.
Em 1792, foi indiciado pelo capitão-general e governador do Maranhão e Piauí [Fernando Antonio de Noronha], quando teve que assinar um recibo datado de 30/09/1792, constando a sua tentativa de suborno. Ver doc. 6974 -1793, Agosto, 21; AHU_ACL_CU_009, Cx. 82, D. 6974.
A morte e o Testamento de Domingos Dias
Após esse fato, talvez pelo constrangimento passado, Domingos Dias da Silva veio a falecer em 17/12/1793, deixando como herdeiros os filhos legitimados de mulheres diferentes, Simplício Dias da Silva e Raimundo Dias da Silva.
O seu testamenteiro foi seu sobrinho e antigo caixeiro Manuel Antonio da Silva Henriques, que iniciou o processo em 20 de maio de 1794, e na delonga do mesmo, enfrentou muitos desafios como o de José Francisco Souto Silveira, que se dizia herdeiro. Ver doc. 983-1794, Maio, 20: AHU-Piauí, cx. 213, doc. 11; AHU_ACL_CU_016, Cx. 19, D. 983; 1539- 1806, Novembro, 27 , São Luís do Maranhão: AHU-Piauí, cx. 21, doc. 61; AHU_ACL_CU_016, Cx. 30, D. 1539.
A escritora piauiense Judith Santana, no seu livro O PADRE FREITAS DE PIRIPIRI, descreveu parte do inventário de Domingos Dias da Silva, no qual, constam algumas recomendações pós-morte, salientando-se:
´… a finalização da capela do Santíssimo Sacramento a qual desde o seu princípio foi feita a sua custa; determina seja o seu corpo sepultado na mesma capela, acompanhado pelos reverendos sacerdotes presentes e pelas Irmandades do Sacramento e do Rosário, das quais era irmão; no dia do seu falecimento o mais breve que se puder se mande dar de esmolas cinquenta mil réis para os pobres da Cadeia da cidade da Bahia [Salvador] e a mesma quantia para os das cidades de Pernambuco [Recife] e do Maranhão [São Luís]; para os presos que se achar na Cadeia desta vila quatro mil réis; cada pobre e viúva que acompanhar o seu corpo dois mil réis; para os órfãos oito mil réis; determina mais se digam missas de corpo presente por todos os sacerdotes que se acharem presentes nesta vila e nos seus distritos, tanto no dia do seu sepultamento como no oitavo dia, hum mil duzentos trinta réis; mais se diga pela sua alma cinco mil missas e nelas se dê trezentos e vinte, aos quais serão ditas em vários Conventos determinados: na Bahia, Pernambuco e Maranhão; mais se digam nos mesmos conventos cinco mil missas e com esmolas de trezentos e vinte, a saber: duas mil por benção de todas as pessoas com quem teve negócios que por algum modo foram lesados sem virem ao seu conhecimento; duas mil pelas almas do Purgatório e hum mil pelas dos defuntos seus pais e parentes; declara se digam trezentas missas nos Conventos dom duzentos e quarenta réis pelas almas dos seus escravos; determina mais se digam cem missas no mesmo Convento de São Francisco de Lisboa com esmolas de duzentos e quarenta pelas almas…; determina mais se digam trezentas missas no mesmo Convento de São Francisco pelas almas sepultadas; determina mais seus testamenteiros mande vir todos os ornamentos e alfaias para a Capela do Santíssimo Sacramento; determina mais que seu testamenteiro, passado um ano depois do seu falecimento, as irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Graça, as casas todas de sobrado que mandei fazer defronte… nessa vila da Parnaíba cuja dádiva… foi feita para o azeite das lâmpadas do Santíssimo Sacramento e da Senhora da Graça dessa referida vila. ”…
A riqueza de Domingos Dias só foi dividida após a morte do sobrinho e dos dois filhos, 39 anos depois de sua morte.
Ainda a respeito do inventário de Domingos Dias da Silva, o mesmo foi demorado e teve muitas intervenções do testamenteiro para o seu prosseguimento. O fato é que embora os herdeiros tenham tomado posse dos bens ainda indivisos, somente em 1832, após as mortes de Manuel Antonio da Silva Henriques, Simplício Dias da Silva e Raimundo Dias da Silva, foi feita a separtilha de cada parte dos herdeiros em favor de suas viúvas e filhos, conforme transcrição de trecho do inventário de Simplício Dias, a seguir, onde se vê que aparece mais um filho de Domingos Dias da Silva, não relacionado no testamento, mas que na época era Juiz de Paz na Villa da Parnahiba, conforme mostra o Termo de Conciliação a seguir:
““. Termo de Conciliação voluntária que fazem Dona Justina Jozefa Dória, viúva por falecimento do Tenente Coronel Raimundo Dias da Silva, seus filhos o Capitão Simplício Raymundo, o Tenente Raymundo Dias da Silva, Dona Justina Brígida Dorea da Silva, Dona Eulalia Lucinda Dorea da Silva, Dona Maria Isabel Thomazia de Seixas e Silva, viúva por falecimento do Coronel Simplicio Dias da Silva, seus filhos o Coronel Antonio Raimundo de Seixas e Silva, o Tenente Simplício Dias de Seixas e Silva, o Capitão José Francisco de Miranda, como Administrador de sua mulher Dona Carolina Thomazia Dias de Seixas e Silva, Dona Helena Amalia de Seixas Dias da Silva, todos maiores de vinte anos, como abaixo declaram:
Aos vinte e hum dias do mês de novembro do anno de mil oitocentos e trinta e dois anos, digo de novembro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil oitocentos e trinta e dois anos, nesta Villa de São João da Parnaiba, Freguesia de Nossa Senhora da Graça, Província do Piahuy, em casa da sua cunhada de Dona Maria Isabel Thomázia de Seixas e Silva, viúva por falecimento do Coronel Simplício Dias da Silva, onde foi vindo o Juiz de Paz substituto, o cidadão João José de Salles, pelo impedimento do atual, o cidadão Antonino Ferreira de Araújo e Silva, que se julgou suspeito pelo fato de ser irmão, cunhado e tio das partes conciliadoras; e sendo ali presentes anunciada a Dona Maria Isabel Thomázia de Seixas e Silva, o Coronel Antonio Raimundo de Seixas e Silva, o Tenente Simplício Dias de Seixas e Silva, o Capitão José Francisco de Miranda, como Administrador de sua mulher Dona Carolina Thomazia Dias de Seixas e Silva, e Dona Helena Amália de Seixas Dias da Silva; bem como os seus filhos, o Capitão Simplicio Dias digo Simplicio Raymundo Dias da Silva, o Tenente Raymundo Dias da Silva, Dona Justina Brígida Dorea da Silva, e Dona Eulalia Lucinda Dorea da Silva, todos maiores de vinte e hum anos e reconhecidos pelos proprios do que se tratam e dou menção: ”Foi pela mencionada Dona Justina Jozefa Dorea da Silva, propondo”…
Ver a seguir cópias de páginas iniciais do Termo de Conciliação da Separtilha dos Bens ainda indivisos em 1832, constantes no livro do inventário de Domingos Dias da Silva, existente no Arquivo Público do Piauí, mostrado na foto por Fábio Muálem, quando o notável escritor Diderot Mavignier clicou imagens, página por página, dessa importante peça histórica:
Conclusão
Você viu neste post a história de Domingos Dias, o homem mais rico de sua época em toda a região.
Viu também parte dos arquivos que mostram a partilha de seus bens entre os familiares.
O objetivo é que você comece a ter acesso a estas informções e comece a compreender como se deu o processo histórico e cultural de nossa cidade, Parnaiba.
Espero que tenha gostado!
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Fonte
Silva, Vicente de Paula Araújo. História da Região da Parnaíba: 1766 a 1799. Villa Mont Serrathe de Parnahiba, Parnaiba PI: Sieart, 2011.
4 respostas
Adorei conhecer essa história!