Se há UMA IRONIA na vida, O CAIXÃO DE TEREZA deve ser uma.
Veja como esta história pode ser uma grande lição de vida
Uma escrava e sua vida sofrida e a morte de um rico coronel de Parnaíba.
Descubra agora que história de vida está por trás do Caixão de Tereza e tire suas conclusões.
Um Rico Coronel é enterrado no Caixão da Escrava Tereza
Por que o Coronel mais rico de Parnaíba foi enterrado no Caixão da Escrava Tereza?
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Leia agora o post e conheça um pouco do contexto histórico de Parnaíba com este conto maravilhoso de Humberto de Campos.
Vamos ao conto de Humberto de Campos que foi publicado no livro Memórias Inacabadas.
As Memórias alcançaram o público, pela primeira vez, em 1933, pela Ed. Marisa; as Memórias inacabadas, em 1935, em edição póstuma da Editora José Olympio; o Diário secreto, em dois volumes, só foi publicado em 1954, pelas Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro.
Parnaiba, portal do maior Delta das Américas
EM PARNAÍBA, a rua que passa ao lado da Santa Casa de Misericórdia chama-se Coronel Pacífico. À esquina, em um quadro feito de tinta escura, lia-se, quando ali cheguei em 1894, e ainda se lia em 1903, esse dístico, em tinta branca. No prédio enorme, que toma todo um quarteirão, em que funcionam hoje os serviços da caridade urbana, residia, há sessenta ou setenta anos, esse homem poderoso.
Coronel Pacífico
Membro, dos mais proeminentes, da aristocracia da Província, possuía numerosos escravos e grandes terras. O seu gado mugia em nove comarcas do sertão e os seus negros enchiam toda a praça fronteira, à hora da bênção a seu senhor. Um orgulho fundo enchia-lhe, por isso, o largo peito brasileiro, e era com displicência altiva que passava a mão pela barba grisalha e espalhada, que, aberta em leque, lhe cobria o coração.
O Caixão de Tereza: uma promessa cumprida
Das suas escravas, uma houve que conseguira o milagre da alforria pelo trabalho.
Rezando e penando, juntando o vintém ao vintém, comprara, primeiro, a liberdade, e, em seguida, para pagar a Deus a bênção da liberdade, adquirira um caixão de defunto. Era o resultado de uma promessa que fizera. Prometera a Deus que, se um dia fosse livre, ofereceria à igreja do Rosário um caixão enfeitado como o dos brancos para conduzir os escravos ao cemitério.
Que eles tivessem, na morte, uma igualdade que não haviam conseguido em vida. O caixão levá-los-ia a enterrar e voltaria para a igreja, à espera de outro viajante da Eternidade. A caminho do outro mundo, naquele esquife agaloado, que substituiria a rede humilde e suja, o escravo teria a ilusão póstuma de que morrera redimido. E Teresa, a velha preta, era feliz e rezava consolada, porque dera esse último sonho de liberdade aos seus irmãos.
A Zombaria com caixão de Tereza
O negro era, porém, antigamente, não só animal de trabalho como objeto de ridículo. Ao passar o caixão de um branco, os transeuntes se calavam, compungidos, murmurando um “Deus te leve!”, com a pena e o terror no coração.
Se era, porém, o caixão de Teresa que atravessava as ruas, aos ombros de quatro negros que levavam a enterrar um companheiro, os brancos paravam pilheriando, e as senhoras corriam para a janela, sorrindo, numa zombaria alegre da última vaidade daqueles homens de cor. E quem melhor sorria, do alto do seu orgulho de homem branco e de homem rico, era o coronel Pacífico, antigo senhor da Teresa, diante de cuja casa, no outro lado da praça, para que ele sorrisse mais, ficava o cemitério.
A morte do Coronel Pacífico
Um dia, partiu o coronel, a cavalo, a visitar as suas numerosas fazendas do sertão. No segundo dia de viagem, ao apear-se em uma das povoações das margens do Parnaíba, teve uma síncope e morreu de repente. A população rodeia-lhe o corpo, compadecida e preocupada.
Onde seputar o Coronel?
Sepultá-lo no cemitério local, cercado de varas e esburacado pelos tatus, é desrespeito a homem tão poderoso. Amarrar o cadáver à sela de um cavalo a fim de conduzi-lo, por terra, para Parnaíba, é missão impiedosa e difícil, pelas vinte e quatro horas de marcha, que são necessárias. E como o caminho mais curto e cômodo é o rio, resolvem os moradores colocar o corpo sobre uma tábua, colocar a tábua sobre os bancos de uma canoa, e fazê-la descer, à força de remos, a toda velocidade, rumo da Parnaíba. Se os remadores não descansarem, remando dia e noite, lá chegarão em vinte e quatro horas. Fez-se isso, e a canoa partiu.
Remadores movidos a Pinga
Animados pela esperança de uma larga recompensa, os tripulantes da embarcação fúnebre fazem-na voar pelas faces barrentas do rio. Horas seguidas, os remos roncam em ritmo surdo, deixando para trás os redemoinhos gorgolejantes das águas. Ao anoitecer, param para repousar um instante, no porto de um povoado.
Os remadores encaminham-se para uma taberna e põem-se a beber. À meia-noite, embriagados todos, voltam para a canoa, e na exaltação do álcool, resolvem compensar as horas perdidas remando com maior fúria. Como tenham trazido para bordo um garrafão de aguardente, remam e bebem. E remam e bebem ainda quando, à primeira claridade do dia, um deles solta um grito:
– Cadê o defunto?
O morto havia, realmente, desaparecido. Com o impulso da canoa para a frente, o corpo se havia deslocado no rumo da popa sem leme, e, por aí, caído n’água… A embarcação faz, porém, meia volta, e, em breve, os seus homens encontram o cadáver que descia na correnteza. E embarcado, começa, de novo, a corrida vertiginosa da canoa, rio abaixo. Até que se ouve outro grito:
– Pega o homem!
Era o corpo do coronel que havia, de novo, caído n’água. E como, ao reavê-lo, os remadores, completamente bêbados, não o punham convenientemente sobre a tábua, tantas vezes o repescassem quantas ele voltava à água, forçando os tripulantes ora a mergulhar, ora a nadar, para que a embarcação não chegasse a Parnaíba sem a sua carga fúnebre. Da última vez, para não interromperem mais a viagem, e, mesmo porque o cadáver já tivesse entrado em putrefação, os canoeiros deliberaram:
– Deixa o homem na água mesmo!
E, amarrando o defunto pelo pé, prendem a corda à popa da canoa, e rebocam-no rio abaixo, rumo de Parnaíba.
Ao chegarem aí, o corpo em franca decomposição, foi arrastado para a praia. O mau cheiro espalhado e a notícia da ocorrência fazem correr para o porto metade da população. A família do morto, surpreendida pelo acontecimento que a cobre de dor e de luto, movimenta-se. É preciso, quanto antes, dar sepultura àqueles despojos macabros, que jazem sobre a areia, à margem do rio. Os marceneiros, chamados, declaram que só no dia seguinte poderão dar pronto um caixão.
E é quando alguém lembra:
– E o caixão da Teresa?
A ideia é aceita, embora com constrangimento.
Vem o caixão, que se achava na sacristia do Rosário.
O caixão, promessa da negra velha.
E o corpo do coronel Pacífico atravessou a cidade, entre o dobre funerário dos sinos das duas igrejas de Parnaíba, no caixão de enterrar escravos, aos ombros de quatro escravos, que tapavam o nariz…
Conclusão
Espero que tenha gostado…
Não sei se você ficou com a mesma dúvida que eu.
Será se o caixão foi enterrado com seu passageiro ou voltou para a Igreja para aguardar outro defunto?
O que você acha? Deixe sua opinão…
Divulgue e eajude a conhecer nossa cidade…
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E aguarde que tem mais contos vindo por aí….
Até o próximo….
2 respostas
acredito que que dê tanta putrefação o caixão não voltou por que foi contaminado