Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O CAIXÃO DE TEREZA um conto de Humberto de Campos de 1894

Você vai aprender neste artigo:

o caixão de tereza

Se há UMA IRONIA na vida, O CAIXÃO DE TEREZA deve ser uma.

Veja como esta história pode ser uma grande lição de vida

Uma escrava e sua vida sofrida e a morte de um rico coronel de Parnaíba.

Descubra agora que história de vida está por trás do Caixão de Tereza e tire suas conclusões.

Um Rico Coronel é enterrado no Caixão da Escrava Tereza

Por que o Coronel mais rico de Parnaíba foi enterrado no Caixão da Escrava Tereza?

Olá, seja bem-vinda e bem-vindo ao nosso site!

Leia agora o post e conheça um pouco do contexto histórico de Parnaíba com este conto maravilhoso de Humberto de Campos.

Vamos ao conto de Humberto de Campos que foi publicado no livro Memórias Inacabadas.

As Memórias alcançaram o público, pela primeira vez, em 1933, pela Ed. Marisa; as Memórias inacabadas, em 1935, em edição póstuma da Editora José Olympio; o Diário secreto, em dois volumes, só foi publicado em 1954, pelas Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro.

Parnaiba, portal do maior Delta das Américas

Santa Casa de Misercórdia de Parnaiba
Santa Casa de Misercórdia de Parnaiba

EM PARNAÍBA, a rua que passa ao lado da Santa Casa de Misericórdia chama-se Coronel Pacífico. À esquina, em um quadro feito de tinta escura, lia-se, quando ali cheguei em 1894, e ainda se lia em 1903, esse dístico, em tinta branca. No prédio enorme, que toma todo um quarteirão, em que funcionam hoje os serviços da caridade urbana, residia, há sessenta ou setenta anos, esse homem poderoso.

Coronel Pacífico

Imagem Ilustrativa do Poderoso Coronel

Membro, dos mais proeminentes, da aristocracia da Província, possuía numerosos escravos e grandes terras. O seu gado mugia em nove comarcas do sertão e os seus negros enchiam toda a praça fronteira, à hora da bênção a seu senhor. Um orgulho fundo enchia-lhe, por isso, o largo peito brasileiro, e era com displicência altiva que passava a mão pela barba grisalha e espalhada, que, aberta em leque, lhe cobria o coração.

O Caixão de Tereza: uma promessa cumprida

Das suas escravas, uma houve que conseguira o milagre da alforria pelo trabalho.

Carta de Alforria da época
Carta de Alforria da época

Rezando e penando, juntando o vintém ao vintém, com­prara, primeiro, a liberdade, e, em seguida, para pagar a Deus a bênção da liberdade, adquirira um caixão de defunto. Era o resultado de uma pro­messa que fizera. Prometera a Deus que, se um dia fosse livre, ofereceria à igreja do Rosário um caixão enfeitado como o dos brancos para conduzir os escravos ao cemitério.

Enterro em Rede era muito comum entre o pobres
Enterro em Rede era muito comum entre o pobres. (Imagem do Siete Memórias do Canindé Ce)

Que eles tivessem, na morte, uma igualdade que não haviam conseguido em vida. O caixão levá-los-ia a enterrar e volta­ria para a igreja, à espera de outro viajante da Eternidade. A caminho do outro mundo, naquele esquife agaloado, que substituiria a rede humilde e suja, o escravo teria a ilusão póstuma de que morrera redimido. E Teresa, a velha preta, era feliz e rezava consolada, porque dera esse último sonho de liberdade aos seus irmãos.

A Zombaria com caixão de Tereza

O negro era, porém, antigamente, não só animal de trabalho como objeto de ridículo. Ao passar o caixão de um branco, os transeuntes se calavam, compungidos, murmurando um “Deus te leve!”, com a pena e o terror no coração.

O caixão de Tereza
O caixão de Tereza era motiva de Piadas (Imagem Ilustrativa)

Se era, porém, o caixão de Teresa que atravessava as ruas, aos ombros de quatro negros que levavam a enterrar um companhei­ro, os brancos paravam pilheriando, e as senhoras corriam para a janela, sorrindo, numa zombaria alegre da última vaidade daqueles homens de cor. E quem melhor sorria, do alto do seu orgulho de homem branco e de homem rico, era o coronel Pacífico, antigo senhor da Teresa, diante de cuja casa, no outro lado da praça, para que ele sorrisse mais, ficava o cemitério.

A morte do Coronel Pacífico

Um dia, partiu o coronel, a cavalo, a visitar as suas numerosas fazen­das do sertão. No segundo dia de viagem, ao apear-se em uma das povo­ações das margens do Parnaíba, teve uma síncope e morreu de repente. A população rodeia-lhe o corpo, compadecida e preocupada.

Onde seputar o Coronel?

Sepultá-lo no cemitério local, cercado de varas e esburacado pelos tatus, é desrespeito a homem tão poderoso. Amarrar o cadáver à sela de um cavalo a fim de conduzi-lo, por terra, para Parnaíba, é missão impiedosa e difícil, pelas vinte e quatro horas de marcha, que são necessárias. E como o caminho mais curto e cômodo é o rio, resolvem os moradores colocar o corpo sobre uma tábua, colocar a tábua sobre os bancos de uma canoa, e fazê-la descer, à força de remos, a toda velocidade, rumo da Parnaíba. Se os remadores não descansarem, remando dia e noite, lá chegarão em vinte e quatro horas. Fez-se isso, e a canoa partiu.

Remadores movidos a Pinga

Imagens ilustrativa dos Remadores

Animados pela esperança de uma larga recompensa, os tripulantes da embarcação fúnebre fazem-na voar pelas faces barrentas do rio. Horas seguidas, os remos roncam em ritmo surdo, deixando para trás os rede­moinhos gorgolejantes das águas. Ao anoitecer, param para repousar um instante, no porto de um povoado.

Os remadores encaminham-se para uma taberna e põem-se a beber. À meia-noite, embriagados todos, vol­tam para a canoa, e na exaltação do álcool, resolvem compensar as horas perdidas remando com maior fúria. Como tenham trazido para bordo um garrafão de aguardente, remam e bebem. E remam e bebem ainda quando, à primeira claridade do dia, um deles solta um grito:

– Cadê o defunto?

O  morto havia, realmente, desaparecido. Com o impulso da canoa para a frente, o corpo se havia deslocado no rumo da popa sem leme, e, por aí, caído n’água… A embarcação faz, porém, meia volta, e, em breve, os seus homens encontram o cadáver que descia na correnteza. E embar­cado, começa, de novo, a corrida vertiginosa da canoa, rio abaixo. Até que se ouve outro grito:

– Pega o homem!

Era o corpo do coronel que havia, de novo, caído n’água. E como, ao reavê-lo, os remadores, completamente bêbados, não o punham conve­nientemente sobre a tábua, tantas vezes o repescassem quantas ele voltava à água, forçando os tripulantes ora a mergulhar, ora a nadar, para que a embarcação não chegasse a Parnaíba sem a sua carga fúnebre. Da última vez, para não interromperem mais a viagem, e, mesmo porque o cadáver já tivesse entrado em putrefação, os canoeiros deliberaram:

– Deixa o homem na água mesmo!

E, amarrando o defunto pelo pé, prendem a corda à popa da canoa, e rebocam-no rio abaixo, rumo de Parnaíba.

Porto-das-Barcas-de-Parnaiba-em-1939
Porto das Barcas de Parnaiba em 1939

Ao chegarem aí, o corpo em franca decomposição, foi arrastado para a praia. O mau cheiro espalhado e a notícia da ocorrência fazem cor­rer para o porto metade da população. A família do morto, surpreendida pelo acontecimento que a cobre de dor e de luto, movimenta-se. É preciso, quanto antes, dar sepultura àqueles despojos macabros, que jazem sobre a areia, à margem do rio. Os marceneiros, chamados, declaram que só no dia seguinte poderão dar pronto um caixão.

E é quando alguém lembra:

– E o caixão da Teresa?

A ideia é aceita, embora com constrangimento.

Vem o caixão, que se achava na sacristia do Rosário.

O caixão, promessa da negra velha.

E o corpo do coronel Pacífico atravessou a cidade, entre o dobre funerário dos sinos das duas igrejas de Parnaíba, no caixão de enterrar escravos, aos ombros de quatro escravos, que tapavam o nariz…

Conclusão

Espero que tenha gostado…

Não sei se você ficou com a mesma dúvida que eu.

Será se o caixão foi enterrado com seu passageiro ou voltou para a Igreja para aguardar outro defunto?

O que você acha? Deixe sua opinão…

Divulgue e eajude a conhecer nossa cidade…

Se gostou Entre em nosso GRUPO VIP NO WHATSAPP e Tenha acesso a muitoa mais informações…

E aguarde que tem mais contos vindo por aí….

Até o próximo….

Voê pode gostar também destes Artigos:

Comente o que achou:

2 respostas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Posts Relacionados

Grupo do Xaxado do Girassol do Sesc: Descubra 0 Segredo da Vitalidade na Pessoa Idosa

Grupo do Xaxado do Girassol do Sesc: Descubra 0 Segredo da Vitalidade na Pessoa Idosa

O Grupo do Xaxado do Girassol do Sesc promove saúde e bem-estar para a pessoa idosa através da dança e atividades sociais, oferecendo um ambiente de inclusão e vitalidade.

Identidade de Parnaíba: Entre as Letras e o Rio

Identidade de Parnaíba: Entre as Letras e o Rio

Identidade de Parnaíba: um mergulho na essência cultural e literária às margens de seus rios, onde a história se entrelaça com a poesia, revelando a identidade singular dessa cidade encantadora.

A Carnaúba: O Ouro Verde do Piauí na déc. de 40

A Carnaúba: O Ouro Verde do Piauí na déc. de 40

Introdução: No coração do Nordeste brasileiro, reina uma palmeira singular: a carnaúba, carinhosamente conhecida como "árvore da vida". Sua presença majestosa não apenas adorna a paisagem árida, mas também oferece

Desvendando Parnaíba: 6 Conjuntos Arquitetônicos Únicos!

Desvendando Parnaíba: 6 Conjuntos Arquitetônicos Únicos!

Descubra em Parnaíba seis conjuntos arquitetônicos únicos. Da história à cultura, cada um conta uma história diferente, esperando para ser explorada.

Preservação Histórica e Desenvolvimento Urbano de Parnaíba, PI

Preservação Histórica e Desenvolvimento Urbano de Parnaíba, PI

Preservação Histórica: Cuidando do legado para o amanhã, mantendo viva a identidade e a história de uma comunidade para inspirar as gerações vindouras.

Parnaíba no Século XIX: A Influência da Cidade na Formação e Independência Nacional

Parnaíba no Século XIX: A Influência da Cidade na Formação e Independência Nacional

Descubra o papel de Parnaíba no século XIX e na independência do Brasil, destacando sua importância histórica e econômica. Explore como a cidade desempenhou um papel crucial na emancipação nacional, enfrentando desafios políticos e sociais. Uma análise do contexto histórico revela sua contribuição para a formação do Brasil como nação independente.

Instagram
WhatsApp