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Incrível como Humberto de Campos descreve o lugar onde nasceu em 1886!

Você vai aprender neste artigo:

Cidade de Humberto de Campos

LEIA  este conto e saiba mais sobre a vida de Humberto de Campos por ele mesmo.

O objetivo é levar até você conhecimentos sobre a infância de Humberto de Campos e popularizar seus contos  ao grande publico através de nosso site.

Este conto está no livro Memórias e Memórias inacabadas/Humberto de Campos. – São Luís: Instituto Geia, 2009. p. 41

Optamos por divulgar na íntegra os contos de Humberto de Campos para que você não perca nenhum detalhe de sua genialidade.

SAIBA COMO ERA A GEOGRAFIA DE MIRITIBA, VILA QUE HUMBERTO DE CAMPOS NASCEU

Praça da Matriz, Humberto de Campos, Ma.

FALTAM-ME elementos históricos e geográficos para escrever sobre a pequena vila em que nasci. Sei, apenas, que foi uma antiga aldeia de índios, mas ignoro a data e, mesmo, o século em que a Civilização começou a penetrá-la. Situada a algumas léguas da foz do Piriá, repousa por trás de uma série de dunas, com a primeira fila de casas espiando de cima desses montes de areia clara, solta e leve. Enquanto do lado da vila se debruçam os barrancos ou se erguem os cômoros arenosos coroados de cajueiros que se miram no espelho d’água, do lado oposto, alagadiço e baixo, o mangue multiplica as raízes, agarrando-se à lama fervilhante de caranguejos azulados, de guarás purpúreos e de níveas garças pensativas.

Humberto de Campos e os peixes de quatro olhos

Dependendo do oceano, a maré leva-lhe, todos os dias, a água do mar e os seus peixes. Pacamões gosmentos e chatos, repelentes mas saborosos, e que poderiam ser, por isso mesmo, um símbolo do Pecado, moram nas locas das ribanceiras, que a vazante põe a descoberto. Botos, às dezenas, sobem com a preamar, mergulhando e aparecendo, como grandes rodas em movimento, nas profundidades, e que viessem mostrar-se, de vez em quando, à superfície. E à flor d’água, na maré baixa, são os tralhotos, os “quatro-olhos” que Vieira tão vivamente celebrou no seu sermão de Santo Antônio, descobrindo nessa “nova arquitetura” a previdência divina, para que eles, com dois olhos, “direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e com os outros dois direitamente para baixo, para se vigiarem dos outros peixes”. À sua passagem rápida, em cardume, toda a superfície da água se frisa e encrespa como soprada de súbito; mas o cardume se detém adiante, para de novo se pôr em marcha ao primeiro sinal de perigo. Canoas de pesca, presas à margem, esticam ou bambeiam a corda ao sabor da maré. E na praia, ou nas dunas claras e limpas, redes enormes, cor de ferrugem, secam ao sol.

Uma nova Samaritana

A vila possui, correndo paralelamente à rua da frente, mais duas ou três, em que os pés dos transeuntes se afundam na areia solta; mas só as duas primeiras têm alguma importância. Cortam-nas algumas travessas; e é tudo coroado na extremidade direita de quem desembarca, por um largo arenoso, em que uma igrejinha modesta e sem torres dá o fundo para o rio. Cercando o casario, é a mataria frondosa, em que fervilham os olhos d’água límpida e agreste que dessedentam a população. Pela manhã e à tarde, cruzam a vila as raparigas (moças) com o seu pote de barro ao ombro ou à cabeça, como nos tempos bíblicos. Se Jesus por aí passasse, encontraria, talvez, junto aos poços da mata, uma nova Samaritana.

Humberto de Campos fala que a casa de seu pai ficava na segunda rua

A casa de meu pai ficava na segunda rua, fazendo canto com a travessa principal. Tinha, de frente, três portas e duas janelas, correspondendo estas à casa de moradia, e duas portas à loja. Um corredor, que correspondia à terceira porta, separava a casa de residência da parte em que funcionava o estabelecimento comercial. Este abria, também, para a travessa com três portas igualmente. Era aí, na travessa, que ficava o pequeno jardim, ou antes, o quintal de roseiras, que dava acesso ao interior da casa de moradia. Prédio baixo, e sólido, de telhas escurecidas pelo tempo; compartimentos tristes e escuros, e soalho de tábuas de convento.

Em frente a essa, e fazendo também esquina, é que meu pai fizera a sua segunda casa, para onde nos havíamos mudado pouco antes de sua morte. Era um prédio de tijolo, assoalhado, e de seis ou oito janelas de frente. Quintal imenso, dividido em três, e que ia até à outra rua. Mas essa casa, confortável e grande, apresentava uma originalidade: era coberta de palha, e não de telha, como a outra. E hoje é que compreendo essa esquisitice no gosto de meu pai. Miritiba era quente, e a palha é uma cobertura fresca. Essa nossa casa era caiada e tinha uma extravagante barra de cor negra, que serviu, mais tarde, para comentários, quando chegou de São Luís a notícia da sua morte.

SERÁ QUE O CACHORRO AGOUROU A MORTE DO PAI DE HUMBERTO DE CAMPOS?

– Eu bem lhe disse que não pintasse a casa dessa maneira, com essa barca preta… Estava se vendo que era agouro! – dizia um.
E outro:
– Eu há dias vinha com o pressentimento de que tinha acontecido alguma cousa. Vocês viam como o cachorro dele chorava de noite?

Era, efetivamente, verdade. Nós possuíamos um cão, um excelente cachorro de caça, que chorava e gania a noite inteira após a partida de meu pai. Era, com certeza, de saudade do dono. Quando meu pai viajava, minha mãe ficava conosco, e o cão não sentia falta do seu senhor; dessa vez, porém, tinham se ausentado os dois, e daí a tristeza sonora e aziaga do pobre animal abandonado.

MIRITIBA DEVIA TER UMAS DUZENTAS CASAS NO TEMPO DE HUMBERTO DE CAMPOS

Miritiba devia ter umas duzentas casas, das quais apenas umas trinta ou quarenta de telha. Os seus arredores eram, no entanto, poéticos. Nas duas extremidades da rua da frente, formavam-se novas filas de edificações que davam os fundos para o rio, tendo, aí, banheiros deliciosos. Essas casas possuíam coqueirais e fruteiras abundantes, características das regiões praieiras. Mais distante ficava o sítio do Padre, com uma casa baixa, de telha, cercada de muita laranjeira, de muita mangueira, de muito cajueiro, e com um riacho cantante e claro correndo sob o arvoredo e no fundo do qual se viam as mangas rosadas, que, sobre o lençol da água corrente, eram como carinhas de crianças que espiassem por trás de uma vidraça tremente… Em direção oposta, era o sítio do sr. Irineu Santos, empenachado de coqueiros, que balançavam as copas para além da mataria baixa. Perto dessa propriedade, afogadas no mato, dormiam as ruínas de uma casa: restos de paredões de pedra, e alguns pedaços de telha pelo chão. Meu tio Epifânio, irmão de minha avó materna, levou-me, uma tarde, até lá, após a morte de meu pai.

Humberto aponta onde ficavam de seu avós

– Aqui – disse-me – viveram os teus avós… Isto aqui era nosso.
Tratava-se, talvez, da casa dos Bruzacas, do sítio de meu bisavô materno, isto é, da casa em que nascera minha avó Malvina, e em que a fora buscar o pacato professor Campos. Aquela em que nasceram os filhos deste casal, e em que este morreu, era na rua da frente, em Miritiba. Quando ma mostraram, era apenas um matagal, tendo em uma das extremidades um poste roído pelo tempo. Era o derradeiro mourão, o último vestígio da casa em que nascera minha mãe e funcionara a escola pública do meu avô.

HUMBERTO DE CAMPOS DESTACA A IMPORTÂNCIA DE MIRITIBA NA GUERRA DOS BALAIOS

Insignificante, embora, sob o ponto de vista econômico, Miritiba tem o seu papel importante, vivo e heroico, na história do Maranhão. Na guerra dos Balaios, em 1840, foi ela tomada e retomada pelos rebeldes, em luta com as forças legais, sob o comando de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. Lima e Silva atacou-a e fê-la ocupar pelos Imperiais Marinheiros. Nela teve início a monarquia do negro Cosme, velho escravo que fugira para as matas circunvizinhas, formando aí uma corte de dois mil negros foragidos. Tendo saqueado uma igreja, Cosme apossou-se das paramentas douradas do sacerdote, e era metido nelas que se locomovia no seu reino verde, cercado da nobreza africana, defendido por um exército de carapinha, deitado em um andor carregado por mulheres da sua raça… Nela se entregaram a Lima e Silva, em janeiro de 1841, setecentos rebeldes de Raimundo Gomes, e foi enforcado Matroá, índio de cento e vinte anos e que nessa idade era ainda um dos mais terríveis guerrilheiros Balaios.

Pequena, mas ilustrada por feitos humanos a minha vila natal. As suas areias beberam muito sangue e muita lágrima. Nas suas cercanias foram cortadas árvores para forca, e trançadas cordas para carrascos. E lá está, hoje, obscura, decadente, moribunda, olvidada no ponto mais esquecido e impraticável do litoral maranhense, onde vai desaparecendo aos poucos, em morte lenta – meio comida pelo seu rio, meio sepultada pelos seus areais…

CONCLUSÃO

Neste conto você vê a genialidade de Humberto de Campos ao descrever sua antiga vila. Mantendo viva em suas memórias detalhes da geografia de Miritiba. Hoje a cidade tem seu nome, Humberto de Campos, em honra a esse filho ilustre, que mesmo longe há muito tempo, não esquece os pequenos detalhes. É isso que fez deste escritor um eterno, suas memórias são inspirações pra nós hoje. Que saibamos valorizar a importância dos nossos antepassados e que possamos eternizar também com boas ações as memórias daqueles que nos rodeiam. Hoje a cidade de Humberto de Campos se destaca como a nova porta dos lençois maranheses, despertando para sua vocação turistica tendo o prestígio de seu filho ilustre como um forte parceiro na sua divulgação.

Humberto de campos, nova porta dos lençois maranheses
Humberto de campos, nova porta dos lençois maranheses

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Fonte

Campos, Humberto de

Memórias e Memórias inacabadas/Humberto de Campos. – São Luís: Instituto Geia, 2009.

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